domingo, 26 de maio de 2013

Pelo pleno direito à liberdade de nossos corpos e vidas!

Panfleto escrito pelo grupo de mulheres Pão e Rosas junto à independentes, para a Marcha das Vadias de Belo Horizonte.

Pelo pleno direito à liberdade de nossos corpos e vidas!
“A igualdade perante a lei não é ainda a igualdade perante a vida.” [Lenin]

Ainda que hoje vivamos em um momento histórico onde existe igualdade jurídica entre homens e mulheres, essa igualdade não garante às mulheres os mesmos direitos. O direito de decidir pelo próprio corpo lhe é negado, assim como sua autonomia. O direito de escolher como se vestir, como, com quem e quantas pessoas se relacionar, o direito de decidir como, quando e se quer ser mãe, são liberdades castradas das mulheres, que sofrem com assédio sexual, estupros, além da ilegalidade do aborto, que clandestino mata milhares de mulheres anualmente. Nesse sentido, a Marcha das Vadias traz essa discussão, colocando na pauta a importância do combate contra o machismo, a opressão às mulheres, e o direito ao corpo e de exercer livremente a sexualidade.
                Nós, do grupo de Mulheres Pão e Rosas e estudantes independentes, acreditamos, porém, que o preconceito e a opressão não são ideias abstratas que pairam no ar, mas possuem raízes concretas na construção da sociedade tal como é hoje, por dentro do atual sistema em que vivemos.
                Hoje, as mulheres ocupam mais postos de trabalho, porém são os postos mais precários, como os terceirizados, ligados à limpeza e alimentação, sem direitos e garantias. Ainda que todas as mulheres sofram opressão, existe uma significativa diferença entre a patroa e a empregada: a exploração e a opressão são, antes de mais nada, de uma classe sobre a outra. Por isso, a mulher trabalhadora, em sua maioria negra, além de pertencer à classe mais oprimida é duplamente explorada, pois é responsável também por todo serviço doméstico, criação dos filhos, além de trabalhar precariamente por salários de miséria, o que gera a dupla jornada de trabalho, que nada mais é do que iniciar um novo dia de serviço após o serviço feito fora de casa. Além de serem as que possuem menos condições de decidirem sobre a maternidade, não podendo realizar um caríssimo e ilegal aborto seguro, nem tendo acompanhamento médico pré-natal necessário.
                As tarefas domésticas realizadas pelas mulheres são necessárias à manutenção da vida e de todos trabalhadores e, portanto, necessárias ao patrão que precisa de seu funcionário alimentado e com a roupa limpa. Tais tarefas são realizadas gratuitamente pelas mulheres que, com o trabalho dentro e fora de casa, chegam a realizar jornadas de 80h/semanais de trabalho. Isso coloca a mulher na situação de não ser apenas a mão-de-obra necessária à produção e lucro capitalistas enquanto trabalhadora, mas também a agente da manutenção dessa mão-de-obra, sendo a dona de casa que sustenta as condições de vida dos trabalhadores.
                A luta contra a opressão deve vir combinada da luta contra a exploração, pois o corpo da mulher somente será livre quando estiver livre também dos tanques, fogões e patrões. Por isso, esse trabalho necessário à manutenção do Estado deve ser garantido pelo Estado, com lavanderias, restaurantes e creches públicas. Além disso, mais do que lutar pelo direito ao aborto, devemos nos colocar pelos direito ao aborto livre, seguro e gratuito, garantido pelo Estado, além de educação sexual de qualidade e não heteronormativa nas escolas, e contraceptivos gratuitos e de qualidade em todos os postos de saúde. Para a mulher que decida ser mãe, a garantia de sua maternidade, com acompanhamento pré-natal e parto seguros e gratuitos, além de creches públicas em período integral.
                Hoje, estamos no terceiro ano da presidência de uma mulher, o que em nada significou avanços e conquistas para as mulheres, senão ataques às mesmas e a todo conjunto dos trabalhadores. Para se eleger, Dilma trocou o direito ao aborto, direito democrático das mulheres, por votos dos setores evangélicos, com sua Carta ao Povo de Deus. Lula, ao fim de sua presidência, assinou o Acordo Brasil-Vaticano, que dá privilégios à Igreja Católica, o que significa mais legitimidade para mais ataques às mulheres e LGBTTIs. E é esse governo petista de Lula-Dilma que garante e legitima que um racista e homofóbico como Marco Feliciano assuma a presidência justamente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
                Chamamos todas as mulheres – e homens – a se levantaram no combate cotidiano às opressões, pois não basta buscar conscientização e convencimento apenas. É necessário se organizar e se aliar à classe trabalhadora, único sujeito capaz de travar a luta concreta contra a exploração e opressão, pois apenas lutando contra a dupla jornada, a precarização do trabalho, os salários inferiores e todas as condições das quais emanam a ideologia opressora de que as mulheres possuem menos direitos, podemos ter direito a nossos corpos e vidas.

“O proletariado não alcançará a emancipação completa se não for conquistada primeiro a completa emancipação das mulheres.” [Lenin]

- EDUCAÇÃO SEXUAL PARA NÃO ENGRAVIDAR. CONTRACEPTIVOS GRATUITOS E DE QUALIDADE PARA NÃO ABORTAR. ABORTO LEGAL, LIVRE, SEGURO E GRATUITO PARA NÃO MORRER!
- POR RESTAURANTES, LAVANDERIAS E CRECHES PÚBLICAS E GARANTIDAS PELO ESTADO!
- PELA ALIANÇA ENTRE ESTUDANTES E TRABALHADORES, NO COMBATE À OPRESSÃO, EXPLORAÇÃO, E A MISÉRIA DA VIDA!

Pão e Rosas e Independentes